Currículo Franciscano: Uma construção coletiva!

em 11 de abril de 2019

Na última terça-feira (19), aconteceu a primeira reunião geral para apresentação dos planos de trabalho dos GT’s criados para a elaboração do Currículo Municipal. Reunidos no Auditório 02 de Julho/SEDUC, os profissionais da Educação conheceram também o cronograma de execução dessa grande realização coletiva, que irá mobilizar toda a Rede Municipal de Ensino, a fim de atingir a meta prevista, que inclui a produção de materiais didático-pedagógicos com a cara de São Francisco do Conde. 
Nosso currículo terá a cara do nosso município, mas em um diálogo com o mundo. Essa jornada de construção curricular será uma grande ação da Educação de São Francisco do Conde, seguindo o planejamento estratégico da gestão Evandro Almeida, mas não será um ato exclusivo da SEDUC. Levaremos ao conhecimento da sociedade a nossa proposta curricular para entrarmos em um amplo debate construído de forma democrática, na audiência pública que faremos no mês de junho”, declarou o secretário da Educação, Marivaldo do Amaral.
As primeiras sementes desta realização começaram a ser plantadas nos Pré-Diálogos, assim como no QualiDG, atividades promovidas pela Diretoria Pedagógica da SEDUC, que ajudaram a delinear os fazeres deste momento histórico. ”A orientação de todo esse fazer é da Direp, mas a gente precisa que envolva todo mundo”, reiterou a diretora pedagógica da Secretaria da Educação, Cristiana Ferreira, que brincou:  “é uma labuta e uma peleja grande, uma grande arenga pedagógica, e é primordial que se tenha o desejo de fazer”.
Mais de 300 pessoas se inscreveram nos Grupos de Trabalho, divididos por núcleo, modalidade e segmentos de ensino. No entanto, essa primeira reunião aconteceu por representatividade, evitando que as aulas fossem interrompidas. ”Teremos momentos também com toda a rede pensando e discutindo o que se está produzindo e no final faremos uma consulta pública à sociedade”.
Um blog está sendo alimentado para dar acesso aos documentos de referência (como a Base Nacional Comum Curricular e Currículo Bahia), assim como a toda produção que for sendo feita, para que virtualmente também seja possível fazer contribuições. ”A gente tem que ter muita propriedade para defender o que a gente precisa”, disse Cristiana, lembrando sobre a inclusão de todo o material que o município construiu durante todos esses anos.
Os professores e coordenadores pedagógicos da rede receberão 03 livros que abordam as discussões sobre o currículo e está sendo pensada a realização de um seminário com os autores.
A normativa que rege todo o processo de construção do referencial curricular franciscano foi apresentada no encontro, composta por GT’s, assessoria (professores da UNILAB e o prof. Dr. Roberto Sidinei), comitê executivo e coordenação dos GT’s.
Não estamos trazendo nada engessado. A gente precisa discutir, dialogar e encontrar o caminho, sem medo de ser feliz!”, declarou Cristiana.
A perspectiva da SEDUC é que o documento final seja redigido até o dia 13 de junho. ”Essa é uma meta audaciosa porque queremos fazer, no segundo semestre, a formação de professores e construir o material didático-pedagógico. Não adianta falar da geografia desse município e na hora não ter nenhum mapa local. Precisamos dar corpo a esse referencial, para que ele possa chegar na escola. Estamos muito felizes em ver esse movimento na rede. Há muito tempo a gente queria fazer isso. O secretário sabe de toda luta no município e a gente precisa estar junto nesse saber”, concluiu a diretora pedagógica. 
Na sequência, a gerente de Currículo, Ana Carolina, apresentou o cronograma de execução, apresentando cada fase de elaboração do currículo. ”Nossa missão é pensar um documento para atender a legislação, cujo último prazo é 2020. Vamos utilizar de nossa autonomia para saber até onde a BNCC nos contempla”. Ela lembrou a importância de considerar a transição na mudança de segmento. ”Eu, professor de Anos Finais, tenho que saber e entender o que acontece na Educação Infantil, pois lá na frente vou receber aquele aluno”.
Segundo Cristiana Ferreira, ”precisamos pensar essa rede como um todo, superando as ilhas. É preciso entender as proposições desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental Anos Finais. Essa é uma perspectiva histórica e um movimento político”.
O encontro seguiu com a apresentação dos planos de trabalho por cada coordenador dos 22 GT’s. A perspectiva da Secretaria da Educação é estabelecer uma Comissão de Avaliação para revisitar o documento construído democraticamente por períodos de tempo.
De uma coisa tenho certeza, ao final desse ciclo teremos não apenas um documento, mas uma proposta curricular que vai delinear um novo caminho, um novo ciclo que essa educação já tem trilhado, fruto do trabalho que estamos desenvolvendo em prol de uma nova cidade, uma nova maneira de fazer e um novo cidadão franciscano”, finalizou o secretário Marivaldo.









Currículo em pauta: Profissionais da Rede Municipal de Ensino participam de palestra com o professor Dr. Roberto Sidnei Macedo



Durante todo o ano de 2019, a Prefeitura de São Francisco do Conde, através da Secretaria Municipal da Educação (SEDUC), irá construir coletivamente o Referencial Curricular do município. Nessa jornada, que inclui 22 Grupos de Trabalho, com a participação de toda a Rede Municipal de Ensino, foi convidado o professor Dr. Roberto Sidnei Macedo para prestar assessoria técnica, uma vez que ele é um dos maiores especialistas do tema no país.
Assim, na manhã da última quarta-feira (03), no Auditório 02 de Julho, aconteceu um encontro entre os membros e coordenadores dos Grupos de Trabalho com o professor Roberto Sidnei, Pós-doutor em Currículo e Formação pela Universidade de Fribourg, na Suíça, e em Teoria do Currículo pelo Instituto de Educação da Universidade de Minho, em Portugal. Ele expôs o tema “Currículo, política de currículo, trabalho e formação de professores: necessidades, desafios e propostas”.
Todo começo de trabalho curricular significa um encontro com as pessoas e tudo o que esse encontro vai produzir. A gente chama isso de conversações curriculantes. Todos nós envolvidos em currículo temos alguma coisa a dizer, mas para isso é preciso ter debates, conversas, consensos e curto circuitos. As conversações curriculantes é o que começamos a fazer com esses encontros. A última palavra do currículo é a do encontro com a singularidade e com as experiências. É na conversa e no encontro com os implicados que as soluções serão encontradas”, declarou o Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo.
A diretora pedagógica da SEDUC, Cristiana Ferreira, afirmou que a oportunidade era propícia para pensar as questões conceituais pertinentes ao tema. “Várias perspectivas nesse fazer curricular são possíveis para sua efetivação e precisamos pensa-las durante sua construção e implementação. São vários fazeres dentro desse fazer, que não ficará restrito a apenas um documento. É importante que percebamos todas as fases que a gente precisa viver, como revisar a nossa matriz curricular, a orientação com relação à construção do PPP – Projeto Político Pedagógico das escolas e a perspectiva da formação de professores”.
Segundo Cristiana, “a ideia é que esse documento tenha vida. A gente precisa pensar também em sua aplicabilidade. Não adianta falar de pertença e identidade se não tivermos materiais didáticos para trabalharmos em sala de aula”. A diretora pedagógica também reiterou a abertura constante ao diálogo e a felicidade com a presença do professor Roberto Sidnei “para enriquecer com a gente”.
Nesse sentido, o professor Roberto Sidnei Macedo conceitua o Currículo “como uma invenção pedagógica como um artefato socioeducacional construído e em constante construção, que se configura nas ações de conceber/selecionar/organizar/institucionalizar, implementar/dinamizar/avaliar saberes, saber-fazer, atividades e valores, visando possibilidades formativas”.
A construção de um referencial curricular municipal é pautada em uma política pública, “uma norma a qual estamos implicados”, explicou o professor Roberto, que enfatizou a felicidade em estar reunido com a Rede Municipal de Ensino. Para ele“currículo sem implicação de professores é política pela metade. Não se debate currículo sem formação de professores. Quando a SEDUC, o secretário Marivaldo do Amaral, Cristiana e Carol me colocam a necessidade de um trabalho com os professores, isso me mobiliza e me deixa feliz, pois é uma reivindicação política do nosso grupo de pesquisa. Os GT’s irão trabalhar conosco, fazer currículo sem o outro sempre foi uma crítica dura nossa”.
A economia do conhecimento é um campo de disputas e uma pauta do poder. Nesse sentido, o Currículo é uma arena de disputas, um local de embates. Não há neutralidade nas relações de saber. “Por que fazer determinada opção por esse conhecimento e não outros?”, questionou Roberto Sidnei. “Por exemplo, ao discutir Ensino Religioso é preciso ter todo o cuidado porque estamos na Bahia e essa discussão precisa ser tocada com muito cuidado e com muito zelo. Precisamos de uma Educação ecumênica e dialógica para não produzirmos silenciamentos. O mundo regido pela economia dos conteúdos a serem aprendidos se torna uma disputa que pode gerar justiça ou exclusões”, destacou.
A importância desse debate se dá porque o conhecimento é pauta de poder de um modo nunca vivido antes, mesmo que Francis Bacon tenha dito que ‘saber é poder’ no século XVII. Há um poder que emana desse campo pedagógico. É uma pauta de extrema importância do contemporâneo, com uma pluralidade de interesses”, reafirmou Roberto Sidnei.
Qual o nosso papel nisso tudo, nesse processo de construção do currículo? Porque esse conhecimento e não outro? O que significa etnocurrículo?”, foram algumas questões levantadas pelo professor. De acordo com ele, o micro e o macro não são categorias que se dicotomizam. “O currículo franciscano precisa ter uma sensibilidade ‘glocal’: global e local. No mundo de hoje não é possível não ser assim, devido às novas tecnologias da informação e da educação, as quais o currículo não pode virar as costas, pois é algo fundante do contemporâneo”.
Para a coordenadora pedagógica da Creche Municipal Isidória Borges, Liliane Souza de Assis, integrante do GT de Educação Infantil, “o encontro foi interessante e provocador! Momento essencial diante do cenário que estamos vivendo. As questões colocadas pelo professor Roberto Sidnei irão somar ainda mais para o debate e elaboração de um currículo franciscano, com potencial formativo para todos nossos estudantes“.



















Fonte: http://saofranciscodoconde.ba.gov.br/curriculo-em-pauta-profissionais-da-rede-municipal-de-ensino-participam-de-palestra-com-o-professor-dr-roberto-sidnei-macedo/

“Que o Currículo Franciscano tenha dignidade para ser debatido em qualquer lugar do mundo!”, declarou o Prof. Dr. Roberto Sidnei, em encontro com os profissionais da Rede Municipal de Ensino.




Essa foi uma das frases de impacto que marcaram a fala do professor Roberto Sidnei Macedo, um dos maiores especialistas em currículo do país, no último encontro que teve com os profissionais da Rede Municipal de Ensino, ocorrido no auditório da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, na quarta-feira (10). O professor está prestando assessoria técnica ao processo coletivo de construção do referencial curricular franciscano e, a cada novo encontro, tem brindado os participantes com bastante conhecimento e reflexões críticas.

A proposta é que se garanta um currículo franciscano contemporâneo, uma vez que se educa para o presente. Para isso, segundo o Prof. Dr. Roberto Sidnei, é necessário que ele seja ”bem debatido, bem dialogado, sem cair na lógica disciplinar e ao mesmo tempo falando em capacidades como na poética música de Almir Sater. O dom de sermos capazes e de sermos felizes. Todos nós, dependendo das nossas motivações e aptidões, somos capazes sim! Isto significa uma atitude perante a capacidade de aprender que não seja hierarquizante, nem excludente”.

O professor deu uma verdadeira aula sobre a questão da disciplina, essencial para o debate envolvendo a estrutura do currículo. Em suas palavras, “as disciplinas não nos dão mais os dispositivos para compreensão do mundo que inventamos – hiper conectado. Elas foram inventadas há dois séculos por um filósofo que falava de ideias cartesianas, mas que serviram ao contexto daquela época”. Ele explicou que a Educação herdou a disciplina das Ciências, como forma de compreender o mundo, e também questionou a divisão entre as Ciências Exatas, Biológicas e Humanas, uma vez que todas dizem questão à humanidade. “Todas são Ciências Humanas e devem estar a serviço da dignidade humana, ancoradas em valores éticos, políticos, estéticos e espirituais”, disse.

“A disciplina em sua forma incomunicante nos ensinou a separar o inseparável: teoria de prática, corpo de mente, indivíduo de sociedade e saiu esquartejado tudo. A disciplina não é apenas uma tecnologia pela qual as ciências se organizaram, mas um modo civilizatório de se pensar o mundo e uma lógica que se impôs. Por isso, hoje estamos vivendo nessas agonias várias, como a questão ambiental, o progresso que não vê além do nariz, em um mundo que nos diz ‘ou pensa diferente ou não vai compreender o que eu sou’”. Todavia, para ele “clareza, consistência, coerência e coesão não fazem mal em nada, a menos que sejam feitas com rigidez”.

De acordo com o assessor técnico, a crítica à disciplina é necessária, mas não se deve demonizá-la, pois não é possível mudar a lógica de enxergar o mundo de uma hora para outra. “A disciplina nos ensinou a aprofundar os campos. Não devemos olhá-la de forma rígida, mas relacional, para trazermos a essa lógica uma perspectiva de diálogo e dialética, sem descartá-la”.  Ele sugeriu que, ao invés disso, ocorra uma ressignificação. “Somos todos filhos e filhas do mundo disciplinar e precisamos lidar com isso, em um debate reflexivo sobre sua construção social e suas relações. É preciso que façamos um exame a partir de nossa própria existência: o que a disciplina fez conosco?”.

Outros pontos importantes apresentados foram as noções de cuidado, diversidade e o processo identitário que se apresentam enquanto transversalidades, ou seja, atravessando os campos disciplinares. “Nesse sentido, também se pode falar de um currículo étnico-constitutivo, envolvendo identidade, diversidade, a nossa cidade, o nosso Recôncavo. É nossa responsabilidade que, nos atos de currículo, enriqueçamos a heterogeneidade dos conteúdos”. Referindo-se à Base Nacional Comum Curricular, o professor esclareceu que as transversalidades já são princípios de Educação Integral, um dos fundamentos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

Com relação à Educação Infantil, Roberto Sidnei questionou quais concepções de infância são trazidas para a sala de aula e afirmou que essas questões também se tratam de transversalidades. “Aquilo que costura todas as disciplinas, até porque no Ensino Fundamental a ideia é que a infância acabou, por conta dos sistemas”. Ele também disse que é uma concepção falsa pensar que no Ensino Fundamental se extingue a importância do jogo e da ludicidade.

Sobre a necessidade de multirreferencialidade, o professor afirmou que se trata de uma educação que não se baseia apenas em livros. Entre outros tipos de aprendizagem, ele citou a história oral, possível, por exemplo, em uma entrevista de estudantes a munícipes mais velhos. ”Como uma entrevista que uma criança faça a algum idoso que conheceu um rio que dava peixe e que, com a degradação, ficou fétido e virou esgoto”. Além disso, ele declarou que ”todo e qualquer saber é inacabado porque precisa de complemento”.

As categorias de saber, saber-fazer (como implicar o saber nas questões socioculturais), saber-ser, princípios metodológicos, expectativas de aprendizagem, avaliação formacional e articulação curriculares foram aspectos fundamentais, trazidos pelo professor. “Podemos criar pessoas alienadas ou capazes de pensar, de aprender com o outro, de aprender com questões socioculturais e não mais imaginar que no saber único está a sua formação”, considerou.

O prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo ainda reiterou a necessidade de um diálogo amplo, em todo o período de construção do Currículo Franciscano, “quem não tem o gosto pela conversa curriculante fica muito difícil, pois temos que ter uma postura ética de acolhimento. Todo saber tem um debate vinculado às questões éticas. Até que ponto isso interessa a uma cidadania digna?”, finalizou, após uma manhã de muito conhecimento compartilhado, diálogo e aprendizagens.

Além do encontro desta quarta-feira, o prof. Dr. Roberto Sidnei esteve com os coordenadores dos GT´s e equipe técnica da Secretaria da Educação, na segunda-feira (08).  Na terça (09), foi feito o estudo do livro Teorias do Currículo, de autoria do professor e pesquisador